A missão de Papa, comparativamente aos outros prefeituráveis, exigia um esforço mais acentuado, na mesma proporção do seu baixo índice visibilidade. A despeito de ostentar a faixa de vice-prefeito em exercício, o então titular, Beto Mansur, nunca deixou que as luzes o revelassem para o grande público. Coisas da política, é o jogo. Papa, diziam, jogava para o time.
Num sábado nublado, ele e seus correligionários, saíram novamente às ruas, prodigamente embandeirados. Naquela ocasião, optaram por caminhar pelas areias da orla da praia, infiltrando-se entre os banhistas, e penetrando as tradicionais barracas, armadas semanalmente para o lazer e descontração.
Estado precário dos banheiros na orla da praia
Animadamente, até onde a vista alcançava, pediu votos a todos, prometendo um governo transparente, austero e realizador. Na verdade, reprisava a tríade, tão comum aos políticos em véspera de eleição.
Na verdade, estranhou-se aquela presença. Contrariamente ao então prefeito Beto Mansur, este sim, assíduo frequentador das praias, em corridas ou caminhadas pelo calçadão, onde era comum vê-lo, informalmente, trocando idéias com populares, Papa era uma figura quase alienígena. Amante do esporte à vela, ele preferia o alto-mar, numa distância segura do cidadão comum. De qualquer modo, a estratégia funcionou, e em poucas semanas estava eleito, depois, como a figura lendária de Iemanjá, desapareceu no mar. Jamais voltou a ser visto novamente entre os banhistas.
Os piadistas da Praça Mauá, dizem que ele é como um raro asteróide nômade, que faz uma aparição a cada quatro anos. Aparentemente, deverão acertar tão notável previsão.
Entretanto, em 2008, quando Papa, à maneira anfíbia, emergir do mar, e retornar às andanças terrestres, vai precisar muito mais do que palavras, para obter promessas de votos. Os resultados do seu governo são insignificantes. Como prefeito, conseguiu transferir às suas ações, a mesma temperatura gélida que sinaliza a sua presença. Burocrata de carteira assinada, deu conotações de impessoalidade às suas atividades, conduzindo o município dentro dos rigores da mais extravagante rotina. O que sobrava ao seu declarado guru, o ex-prefeito e deputado Oswaldo Justo, falta-lhe em dobro.
Em três anos e meio de uma administração apática, não se viu, nem se sentiu, sintomas de uma postura energizada, como seria de se esperar de um chefe do executivo. Papa preferiu manter-se distante dos debates, dos projetos, e das grandes obras que a cidade necessita e reclama. Inerte, viu o tempo passar, escancarando-lhe os resultados negativos das autarquias e órgãos vinculados à municipalidade, com robustos prejuízos, capitaneado pela Companhia Engenharia de Tráfego (CET).
Teórico contumaz, pragmático, e conservador, Papa impediu a cidade de crescer. Fez tão somente o básico, produzindo uma administração insossa, e altamente inexpressiva, mesmo contando com o apoio de uma mão-de-obra respeitável, um pequeno exército de 10.000 (dez mil) colaboradores, sem contar o contingente de empresas terceirizadas, remuneradas também, pelos contribuintes.
Brevemente, para a campanha de 2008, pode ser que o futuro candidato não tenha muita coisa a dizer aos eleitores, mas, certamente, terá que ter o dom de um paciente confessor, para ouvir comoventes desesperanças de seus ex-eleitores.
Pecados, no conceito de 1 a 10
Limpeza pública no centro da cidade e periferia: nota 1
Segurança – Ações e Presença (Guarda Municipal): nota 1
Transporte coletivo (linhas e horários): nota 3
Manutenção de ruas, praças, e podas de árvores: nota 2
Construções irregulares (em áreas de recuo obrigatório): nota 0
Trânsito (ações da CET): nota 1
Fiscalização (ocupação do passeio público por bares e restaurantes): nota 0
Realização de grandes obras (alargamento de ruas/túneis/viadutos): nota 0
Prédios abandonados no Centro por omissão (ruas estreitas e fétidas): nota 0
Jardins da praia (conservação e desratização): nota 2
Direto da redação: Raul Brandão